FRANCISCO SOARES DE ARAUJO nasceu em 19 de março de 1926, na cidade de Princesa Isabel, Paraíba, Brasil. Exatamente na Rua Coronel Antonio Pessoa, 30 - hoje Rua Músico CHICO SOARES ( CANHOTO DA PARAIBA). Filho do segundo casamento do seu pai – ANTONIO SOARES DE ARAUJO, com QUITERIA LOPES DE ARAUJO. Família grande, com 4 irmãos e 5 meio-irmãos. O avô de CHICO – JOAQUIM SOARES – era clarinetista. O pai, violonista (e sacristão de profissão). Dois irmãos – LULA e GIA – também eram músicos. Na sua casa reuniam-se os principais músicos de Princesa, como o acordeonista Zé Costa, os violonistas Zé Micas e Luiz Dantas, o saxofonista MANOEL MARROCOS, o regente da banda local JOAQUIM LEANDRO que lhe ensinou as primeiras notas. Na sua casa eram constantes as serenatas e saraus musicais. Pode-se assim entender a origem da veia musical de CHICO SOARES! Nesse ambiente farto de sons e musicalidade, aos 12 anos, fascinado pelo tocar de violão do pai, ganha dele como presente, um violão - que foi destruído num acidente-, vindo somente a ter outro aos 15 anos. CHICO era canhoto e se tivesse que adaptar o violão a essa sua característica, teria que alterar todo o encordoamento do instrumento. Como esse violão era dividido com os demais “tocadores de violão” da família, CHICO terminou se adaptando e desenvolveu aquilo que o tornou nacionalmente conhecido – -usar o braço do violão no lado do ombro direito. Daí, anos depois, em Recife, ganhar o nome artístico de “CANHOTO DA PARAIBA”. Dominado o instrumento, orientado pelo pai, pelo tio e por outros músicos princesenses, ele passou a tocar em festas, serenatas e nas radio-difusoras (serviço de som por alto-falantes local) de Princesa: a VOZ DE PRINCESA E IBIAPINA.
Em 1944, com 18 anos, foi levado para Recife pelo frade carmelita FREI CASANOVA, para tentar um emprego na Rádio Clube de Pernambuco. Por saudade, desistiu e voltou para Princesa, de onde só saiu em 1951, já com 25 anos. Contam alguns contemporâneos seus, que CHICO vivia em quase todos os momentos diários junto a seu violão, como se fosse uma extensão do seu corpo e de sua alma!
Assim, pode-se concluir que “Princesa foi o berço e a grande escola onde se moldou e se formou o gênio musical” que foi CHICO SOARES!
Em 1951, levado pelo então Deputado ANTONIO NOMINANDO DINIZ, assinou contrato com a Rádio Tabajara de João Pessoa, onde ficou até 1957. Lá, conviveu com grandes músicos, como SIVUCA e LUPERCE MIRANDA. Com a companheira MARIA LACERDA (Nazinha), teve 2 filhas- Lourdes e Corrinha- que são nomes de valsas de sua autoria.
Em 1955, com 29 anos, fica viúvo. Em 1957, transfere-se para Recife, onde vem a integrar o elenco da Radio Jornal do Comercio (aquela que falava “de Pernambuco para o mundo”). É em Recife, que ele amplia seu circulo de amizades com importantes nomes do “CHORO” (um estilo musical). E ganha o nome de “CANHOTO DA PARAIBA” dado por um produtor do programa de radio “luar do sertão” da Rádio Jornal do Comercio, de Recife.
Em 1959, CHICO vai ao Rio de Janeiro, numa viagem de jipe de 5 dias, junto com amigos e tem o grande encontro com a nata dos “chorões” cariocas, onde causou a mais vivida impressão pela sua técnica inimitável e pela sonoridade e estilo ,revelando-se um mestre na arte da composição e um virtuose do seu violão canhestro, no dizer do musico e produtor musical Herminio de Carvalho. O conhecido musico PAULINHO DA VIOLA , registra que nessa ocasião, que entusiasmado pela performance de CHICO, ganhou enorme motivação para sua futura carreira musical.
Voltando para Recife, casa-se com EUNICE GADELHA, de quem teve mais duas filhas: FATIMA e VITORIA- que também são nomes de valsas de sua autoria.
Em 1968, grava seu primeiro disco (LP)– ÚNICO AMOR – pela produtora pernambucana Rozemblit. Em 1971, grava um segundo disco (LP)– UM VIOLÃO DIREITO NAS MÃOS DO CANHOTO – gravação particular, financiada por amigos e admiradores. Em 1977, produz seu terceiro disco (LP) “CANHOTO DA PARAIBA, O VIOLÃO TOCADO PELO AVESSO, pela produtora Marcus Pereira. Em 1993 e 1994, mais um disco (LP) “PISANDO EM BRASA” e o primeiro CD “COM MAIS DE MIL.” O primeiro pela produtora Caju Music e o segundo pela produtora Marcus Pereira.
Ao longo de sua carreira artitistica, teve participação destacada em muitos outros títulos de discos, alem de ter suas belas composições apresentadas por outros músicos. Foi a grande fase, o apogeu da carreira, com viagens, tournées, shows, sendo um dos artistas mais requisitados nos eventos musicais do Recife e outros lugares. Era preciso agendar com bastante antecedência para se ter oportunidade de ter o artista nos eventos.
Entre 1990 -1994, em projeto apoiado pelo Banco do Brasil, animado pelo seu Superintendente Regional na Paraiba – GERALDO AZEVEDO – CHICO teve sua ultima grande presença no cenário artístico, se apresentando em mais de 50 cidades da Paraiba , e até em Portugal.
Em 1995, com 69 anos de idade e 51 de carreira artística aposentou-se , por tempo de serviço num pequeno emprego que tinha no SESI de Recife, onde era funcionário da assistência social, somado ao tempo que trabalhou na Transportadora Relâmpago, onde era mantido pela amizade do seu proprietário, para animar os eventos de lazer da empresa.
Nesse período, CHICO veio muitas vezes à sua cidade natal, Princesa. Era sempre o grande reencontro. Gerava admiração,curiosidade e encanto com sua maestria. Era a grande noticia. O comentário principal dos princesenses.
Em 1996, na Semana da Cultura, por ocasião da data da emancipação do Municipio, CHICO e MANOEL MARROCOS – outro grande musico princesense – foram as figuras de destaque. Sua ultima visita, ainda saudável foi em dezembro de 1997, a convite de JOÃO MANDU, para participação na Festa da Padroeira. Somente em 2006, já doente, voltaria à Princesa.
Em 8 de abril de 1998, aos 72 anos, um derrame (AVC) atinge CHICO com efeito devastador na sua capacidade física e mental. O lado esquerdo paralisado, impossibilitou-o de tocar o seu velho companheiro violão- a “tabuinha” como o apelidava. Falava com dificuldade, não andava e precisava de fisioterapia permanentemente. Somando-se a esta tragédia , uma outra se abateu sobre ele, ao ficar viúvo pela segunda vez. Passou então a viver com sua filha Vitoria Gadelha até seus últimos dias. Morava –nos últimos anos - em Paulista, cidade pernambucana na área do Grande Recife, no bairro Maranguape I, numa casa simples, sem maiores confortos, mas cheia de recordações , principalmente de sua terra natal, assunto permanente em suas conversas e entrevistas.
CHICO tinha como principal fonte de renda uma aposentadoria de seis salários mínimos, que estava longe de cobrir as despesas com as suas sessões de terapia diária. Assim que souberam do seu grave estado de saúde (chegou a ser internado em UTI), vários dos grandes nomes do chorinho e do samba, cariocas e pernambucanos, realizaram no Teatro Guararapes, com produção da Raio Lazer, um show beneficente para o violonista. Estiveram lá desde o seu maior fã, PAULINHO DA VIOLA, ao mitológico ÉPOCA DE OURO (grupo que acompanhava Jacob do Bandolim), ALTAMIRO CARRILHO, e os pernambucanos DALVA TORRES, NUCA, RACINE, CLÁUDIO ALMEIDA, NENÉO LIBERALQUINO. A renda líquida, R$ 27.180,00, transferida para CHICO, foi gasta no tratamento intensivo a que ele era submetido na época.
Em 2002, numa iniciativa inédita no país, Pernambuco foi o primeiro Estado brasileiro a instituir, no âmbito da Administração Pública, o Registro do Patrimônio Vivo, que reconhece e gratifica com uma pensão vitalícia mensal representantes da cultura popular e tradicional do Estado. Um dos primeiros agraciados foi CHICO SOARES, junto com outros músicos pernambucanos como Camarão, Lia de Itamaracá e Mestre Salustiano. A cerimonia de entrega dos primeiros 12 titulos de Patrimonio Vivo de Pernambuco, aberta ao público, foi realizada em frente ao Palacio do Governo do Estado (Campo das Princesas), no Recife, no dia 31 de janeiro de 2006.
No dia 9 de junho de 2004, durante a cerimônia de reabertura do Projeto Pixinguinha, o Presidente LULA homenageou CHICO SOARES como um dos mais geniais músicos brasileiros. Uma escolha justa, já que no projeto original, a turnê – em 1977 -de CHICO com PAULINHO DA VIOLA foi uma das de maior sucesso. Quando, em 1997, o projeto Pixinguinha foi cancelado na última hora, estavam previstas apresentações de CHICO SOARES com o violonista CAIO CÉZAR.
Em 2004, o Governo do Estado da Paraiba homenageando à CHICO SOARES criou o Registro dos Mestres das Artes (REMA), conhecida como LEI “CANHOTO DA PARAÍBA”. Esta Lei garante o benefício de dois salários mínimos mensais a artistas de reconhecido valor, cujo trabalho tenha contribuído ao longo dos anos para a formação do patrimônio cultural paraibano. A Lei de nº 7.694, de 22 de dezembro de 2004, foi publicada no Diário Oficial do Estado do dia 16 de julho de 2005. Seu primeiro artigo registrou – de forma indelével – o nome de CANHOTO DA PARAIBA, relembrando-o todas as vezes que um artista paraibano, através dessa lei, ganhar seu direito mínimo á sobrevivência, como reconhecimento pela sociedade que deste recebeu sua contribuição ao patrimonio artístico:
Autor: Francisco Florêncio
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